Investimento responsável? Fatores ASG? Green Bonds?

Esses termos têm ganhado relevância nas decisões de investidores no Brasil e no mundo, conquistando cada vez mais destaque na mídia especializada. Mas o investimento ASG realmente contribui para melhorar o desempenho da carteira do investidor? O que significa o termo “maquiagem verde” (greenwashing)?

ASG é a sigla para fatores “Ambiental”, “Social” e de “Governança”. Embora grande parte dos agentes considere fatores ASG na análise de investimentos para mitigar riscos e atender à regulamentação vigente, estudos mostram que, na visão de participantes de mercado, aqueles que conseguem identificar, corretamente, oportunidades com expectativa de melhoria no perfil ASG podem ser recompensados, principalmente no longo prazo. Esse fenômeno deve ganhar ainda mais peso no futuro, conforme demonstrado em pesquisas, como a do CFA Institute em conjunto com a “Principles for Responsible Investment” – PRI (“Integração ASG no Brasil: Mercados, Práticas e Dados”), publicado em 2018.

A falta de observância de fatores ASG pode representar um alto custo para as empresas em termos de imagem e de passivos judiciais, tais como processos trabalhistas e escândalos que se tornam notórios. Essa percepção está

cada vez mais latente, desde o episódio de derramamento de óleo na costa do Alaska, em 1989, pelo navio petroleiro Exxon Valdez, até casos mais recentes, como o rompimento das barragens de Brumadinho/MG e Mariana/MG, tragédia humana e ambiental; a agressão até a morte de um cliente em supermercado, com forte impacto social; e as fraudes contábeis promovidas por grandes empresas de energia e instituições financeiras nos Estados Unidos, com implicações no quesito de governança. O fato é que, quando esses eventos se materializam, o investidor paga um alto preço. Todavia, o investidor deve ter cautela para identificar quem realmente adota os aspectos ASG, tendo em vista o crescimento do fenômeno denominado greenwashing, ou maquiagem verde, que consiste na injustificada apropriação de virtudes ASG por parte de empresas e fundos.

Atualmente, a governança é o fator de maior destaque e a integração de aspectos ASG no processo de investimento tem sido muito mais utilizado no segmento de renda variável do que na renda fixa. Não existe prática ótima ou única para a integração desses aspectos à gestão de investimentos. Não obstante, um conjunto de melhores práticas está se tornando mais frequente, à medida que os investidores as implementam na análise, pesquisa e seleção de investimentos. Essas práticas podem ser divididas em cinco principais categorias:

1. Screening negativo: envolve a exclusão de oportunidades de investimento com base na aplicação de filtros;
2. Screening positivo: envolve o favorecimento de oportunidades com aspectos ASG positivos. O método Best-in-Class seria um caso específico dessa categoria, na qual se seleciona, no universo de opções de investimento, aquela com melhor atendimento a fatores ASG;
3. Integração ASG: diz respeito ao uso de critérios quantitativos e qualitativos na análise tradicional de ativos. Um exemplo dessa categoria é a consideração de fatores ASG na formulação de premissas de modelos de valorização desses ativos;
4. Investimento temático: foca no investimento em ativos de acordo com classificações setoriais ou temas específicos, como, por exemplo, mudanças climáticas; e
5. Investimento de impacto: busca o atingimento de objetivos sociais ou ambientais em conjunto com retorno econômico, a partir do investimento em empresas, projetos ou veículos específicos, tais como green bonds.

Os três primeiros itens são categorias baseadas em valor, cujo objetivo é mitigar riscos e identificar oportunidades de investimento, a partir da análise de fatores ASG em conjunto com métricas econômico-financeiras, em uma perspectiva holística; os dois últimos estão na categoria baseada em valores, no qual se busca expressar as crenças morais e éticas do investidor. Nesse contexto, considera-se que o grupo baseado em valores seja mais propício ao objetivo de geração de retornos ajustados ao risco maiores, no longo prazo, ressalvando que o screening negativo já não está sendo mais considerado tão efetivo quanto antes.

A Centrus considera fatores ASG na análise de seus investimentos, utilizando a abordagem das metodologias baseadas em valores, mais alinhada ao objetivo de geração de retornos reais acima dos Índices de Referência/Metas Atuariais, notadamente, por meio dos critérios “Screening positivo” e “Integração ASG”, considerações que já fazem parte, inclusive, dos regulamentos internos da Fundação. Na mesma linha, reforçando a preocupação com a governança, a Centrus é detentora dos selos de autorregulação em Governança Corporativa e em Governança de Investimentos.

Texto elaborado pela Gerência Técnica de Investimentos – Getec