Tulio Maciel, diretor de aplicações da Centrus, explica política de investimentos e rentabilidade da previdência complementar.

Tulio Maciel, diretor de aplicações da Centrus, é mestre em Economia e atuou como chefe do Departamento Econômico do Banco Central por aproximadamente dez anos, período em que participou das reuniões do Copom como responsável pela análise de conjuntura econômica. Foi porta-voz da autoridade monetária em temas como política de crédito, fiscal e balanço de pagamentos. Possui certificação em Investimento, pelo Instituto de Certificação dos Profissionais de Seguridade Social – ICSS.

 

A Centrus tem um histórico de sucesso na administração de seus fundos? Qual a fórmula para isso?

Tulio Maciel: É verdade, a Centrus é amplamente reconhecida pela excelência. Isso, claro, reflete a sua atuação ao longo dos anos e, sobretudo, os seus ótimos resultados quando olhamos os benefícios pagos aos seus assistidos. O plano mais maduro da casa, o PBB, por exemplo, está distribuindo este ano o seu 11º superávit. Significa que, além de honrar os compromissos de previdência a que se propõe, está repartindo os excedentes acumulados ao longo de 45 anos de investimentos.

Não é pouca coisa, imagine os desafios que esse Plano já enfrentou ao longo da vida: hiperinflação, planos de estabilização, crises globais, mudanças de regimes, crises institucionais, pandemia… atravessar todos esses cenários e sair “na outra ponta” com desempenho robusto foi possível porque carregamos muitos dos atributos do DNA do Banco Central: comprometimento, ética, capacidade técnica, qualificação e, claro, muito trabalho.

 

No final do ano passado tivemos alterações normativas importantes no cenário regulatório da previdência complementar. O que significam essas mudanças e como elas impactam a Centrus e seus participantes?

Tulio Maciel: Essa é uma mudança importante. Em dezembro, foi publicada a Resolução CNPC nº 61, que estendeu aos planos de contribuição a possibilidade de incorporar às suas carteira títulos públicos federais marcados na curva, o que antes era permitido apenas para planos de benefício definido.

Na prática, isso significa que a rentabilidade desses títulos ao longo de sua vida, até o resgate, não sofre mais com as oscilações de mercado. É uma mudança positiva porque reduz a volatilidade da carteira e permite alongar os vencimentos dos títulos que carregamos sem trazer volatilidade.

 

Quais são as perspectivas da Centrus para os investimentos, considerando os atuais desafios econômicos e as oportunidades do mercado?

Tulio Maciel: As perspectivas para os investimentos da Centrus são positivas. A recente mudança normativa permitiu incorporar títulos públicos na curva, com prêmios reais atrativos, bem superiores aos nossos índices de referência. A carteira foi reestruturada para incluir um volume significativo desses ativos de longo prazo, com taxas reais acima de 7% ao ano. Isso já se reflete na rentabilidade dos planos, que neste ano, até junho já superam 6%.

Com gestão técnica e focada no longo prazo, a Centrus está preparada para entregar resultados consistentes, fortalecer e valorizar de forma sustentável o patrimônio previdenciário dos participantes, aproveitando as oportunidades do mercado com responsabilidade e visão estratégica.

 

Como a Centrus define sua carteira de investimentos? O que é levado em conta para equilibrar segurança, rentabilidade e liquidez?

Tulio Maciel: A composição da carteira de investimentos é a essência da nossa atividade. A estruturação do portfólio de investimentos da Centrus é um trabalho bastante cuidadoso e técnico. A base é a nossa Política de Investimentos. Ela traz diretrizes claras, define limites de risco, alçadas de decisão, processos de monitoramento e outros elementos essenciais.

Mas o ponto central dessa política é justamente a proposta de composição da carteira, ou seja, como vamos distribuir os recursos pensando nos compromissos futuros dos planos e no quadro econômico dos próximos anos. Para chegar a essa definição, passamos por várias etapas. Primeiro, analisamos a conjuntura com profundidade, inclusive com apoio de consultorias especializadas. Depois, fazemos projeções com base em modelos econométricos desenvolvidos ao longo dos anos. Com isso, conseguimos simular diferentes cenários e construir nossas carteiras ideais, ou carteiras ótimas, que são combinações que equilibram risco e retorno. Essas carteiras passam ainda por uma análise crítica antes de definirmos o portfólio-alvo, que vai guiar as aplicações da Fundação. É um processo técnico, robusto e que nos dá segurança para agir com responsabilidade no longo prazo.

 

Que tipo de ativos têm maior representatividade no portfólio da Fundação atualmente?

Tulio Maciel: A renda fixa, naturalmente, em especial os títulos públicos federais atrelados à inflação, o que faz todo sentido para uma entidade de previdência complementar. Como nossos compromissos estão concentrados no longo prazo, buscamos ativos que também tenham essa característica. Esses papéis, diga-se, têm oferecido prêmios reais bastante atrativos nos últimos meses, com taxas reais acima de 7% ao ano.

Além disso, considerando que a otimização da carteira se baseia nas relações de risco e retorno e liquidez, busca-se também diversificar as alocações. Por isso, mesmo com o peso maior da renda fixa, também mantemos exposição a renda variável, multimercados e ativos no exterior, sempre, naturalmente, dentro dos limites definidos pela política de investimentos. É um processo criterioso e acompanhado diariamente.

 

Como a Centrus realiza a gestão de riscos e lida com cenários de alta volatilidade econômica?

Tulio Maciel: A gestão de riscos é um dos pilares da atuação da Centrus. Temos uma estrutura institucional bem definida para isso, com três linhas de defesa: as áreas técnicas, que fazem a análise de riscos no dia a dia; a área de compliance e monitoramento de risco; e, por fim, a auditoria interna, que tem um papel mais específico e independente.

No campo dos investimentos, a gestão de risco é ainda mais detalhada. A nossa política de investimentos contempla os riscos de mercado, de crédito e de liquidez. Isso significa que analisamos quem são os emissores dos ativos, qual o prazo deles, como se comportam diante de oscilações do mercado e se estão concentrados em um mesmo setor, por exemplo.

Fazemos também o uso de ferramentas para acompanhar esses riscos diariamente. O risco de mercado, por exemplo, relacionado à variação dos preços dos ativos, é monitorado com metodologias específicas para garantir que esteja sempre dentro dos limites definidos. Isso nos permite agir com celeridade caso haja necessidade de ajuste.